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O ato de perguntar

Marisa Del Cioppo Elias - Brasil
Hoje (22/7) no atelier Cooperação Internacional e formação foi-nos solicitado colocar num papel verde Mes apports e num outro, rosa, Mes questions.
Tenho percebido por meio de variados encontros com educadores o quanto a postura de fazer perguntas não é prática muito comum entre nós. E, no entanto, deveríamos ser especializados na arte de perguntar. Na verdade, o que acontece com muitos de nós é justamente o contrário: terminamos nos tornando grandes especialistas na arte de dar respostas.
Que acontece conosco que, na maioria das vezes, quando ousamos perguntar, perguntamos sobre aquilo que já sabemos e não sobre o que não sabemos? É como se perguntássemos unicamente para confirmar o nosso saber e conferir o saber do outro. Isso não observo entre os educadores freinetianos para quem o ato de perguntar não se dá de forma isolada, mas ancorado a outras vivências que, de certa forma, facilitam ou dificultam o aprendizado.
Hoje percebo quanto o ato de perguntar transformou-se, na minha prática docente, num instrumento de trabalho que me possibilita criar e, ao mesmo tempo, entrelaçar os fios do tecido da minha pratica pedagógica.
Será que não existe também um entrelace entre o aprendizado da fala e o da pergunta? Aprendo a perguntar mediante o aprendizado de aprender a falar. Fica difícil aprender a perguntar quando não se vivencia o aprendizado de dizer a própria palavra.
Quando não podemos dar a nossa contribuição sobre o que sabemos, o que pensamos ou até mesmo sobre o que não sabemos, como é possível aprender a perguntar? As perguntas normalmente surgem em momentos de dúvidas, em momentos de reconhecimento ou readequação do nosso discurso.
E se esses momentos são escassos, para não dizer inexistentes na nossa prática pedagógica, como e onde podemos aprender a formular perguntas? Como e onde aprendemos a formular perguntas se não podemos expor nossas dúvidas, se não podemos dizer que não sabemos?
A proposta do atelier de hoje me fez refletir se quando damos respostas prontas aos nossos educandos não estamos anunciando/denunciando que não queremos que eles entrem em contato com os nossos não-saberes? Não sei. Talvez sim, talvez não! O que tenho claro para mim é que o ato de aprender a perguntar requer aquilo que Freinet nos ensinou, ou seja, requer a existência de um ambiente de confiança entre educador e educando para que ousem trazer seus não-saberes, ao mesmo tempo em que exige que aquele que educa viva, na prática, a compreensão do erro como possibilidade de acerto.